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# Fotografias da Fábrica Sol e da Fábrica das Fontaínhas, em Alcântara.

# José Miguel Sardica

As duas fotografias apresentadas fixaram para a posteridade as fachadas das instalações industriais da primitiva Companhia Aliança Fabril (a CAF), e da primitiva Companhia União Fabril (a CUF), ambas localizadas na zona ribeirinha de Alcântara, em Lisboa, que serviram de base inicial e de rampa de lançamento para a construção do império fabril erguido por Alfredo da Silva ao longo de décadas.

A Companhia Aliança Fabril (CAF) fora fundada no princípio da década de 1880, e instalada no chamado baluarte de Alcântara (a Avenida 24 de Julho), ali produzindo sabões, óleos, massa de purgueira, glicerina e velas de estearina. Em março de 1893, na sua qualidade de diretor do Banco Lusitano, um dos credores da CAF, e também de acionista desta, o jovem Alfredo da Silva compareceu pela primeira vez na assembleia-geral da Companhia. Volvido um mês, a 7 de abril, ascendeu nela a administrador-gerente com plenos poderes. Era a sua estreia, aos 22 anos, numa liderança industrial, na condução de uma empresa de capitais vários, onde também pontificava o importante Henry de Burnay, seu colega acionista na Carris lisboeta. Na liderança da CAF, Alfredo da Silva quis afirmá-la no panorama industrial português. Não era uma tarefa fácil, dado ser grande a concorrência, tanto nacional como internacional, no fabrico e comercialização de sabões, óleos ou velas. Em Lisboa, a principal ameaça à viabilidade da CAF vinha de uma outra empresa que atuava nos mesmos ramos de produção: a Companhia União Fabril. Inicialmente designada União Fabril, fora fundada em 1865, no Largo das Fontainhas, em Alcântara, a uns escassos duzentos metros da futura Fábrica Sol (o complexo da CAF), produzindo sabões e sabonetes, velas de estearina, óleos de palmiste, linhaça, purgueira, mendubim e rícino, adubos e coconote para engorda de animais. Após a morte do seu fundador, o visconde da Junqueira, em 1872, a CUF quase falira, tendo sido resgatada pela injeção de capital feita pelo visconde da Gandarinha e por Henry de Burnay. No final do século XIX era já um negócio viável, embora de dimensão média. O facto de Burnay ser acionista, em simultâneo, da CUF e da CAF, de ambas atuarem nos mesmos ramos de atividade e de serem quase contíguas levou Alfredo da Silva a arquitetar, em 1897, uma fusão entre as duas, para que juntas ganhassem economias de escala, mais massa crítica e capacidade produtiva face à concorrência. Com o apoio de Henry de Burnay, a intenção foi adiante: a CUF comprou os ativos da CAF por 160 contos, assumindo o seu passivo e aumentando o capital social da “nova” CUF de 200 para 500 contos. A 22 de abril de 1898, tomou posse o novo conselho de administração da CUF, composto por sete membros, dois dos quais na qualidade de gerentes-executivos: Roberto Mendia (tio de Burnay) e Alfredo da Silva. Rapidamente se percebeu que seria este a dirigir os rumos da nova empresa, definindo opções, encetando negócios, visitando, no estrangeiro ou em Portugal, outras fábricas e produtores, para recolha de ideias, compra de maquinaria ou matéria-prima, etc. Aos 27 anos, o ex-gerente da CAF reinventou-se como gerente da CUF, o emprego que seria o do resto da sua vida, durante quase quatro décadas e meia, erguendo um conglomerado empresarial que se estenderia ao Barreiro, a Alferrarede e a outras localizações em Portugal, e que se alargaria a diferentes ramos de indústria, ao comércio, construção naval, banca ou seguros. As duas fotografias datam do início do século XX. Em cima, a Fábrica Sol, da antiga CAF, ostentando já na fachada da Avenida 24 de Julho a menção «Companhia União Fabril» (a sua nova proprietária depois de 1898), e utilizando as paredes para publicidade direta dos seus produtos “chimicos” (óleos, rícino e adubos). Em baixo, a fachada da «Comp.ª União Fabril», no Largo das Fontainhas, anunciando também as suas produções (para a “Alimentação barata dos gados”) e serviços (“Fazem-se analyses gratuitas das terras”). No interior das instalações da CUF é visível a imponente chaminé dos “adubos chimicos”, ainda hoje preservada como testemunho de uma história empresarial de sucesso de mais de um século. Foi a partir do berço original das fábricas das primitivas CAF e CUF que o império de Alfredo da Silva e da família Mello começou, verdadeiramente, a ser construído.

Fábrica Sol e das Fontaínhas, em Alcântara