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# As Festas Centenárias da CUF no Barreiro

# Ana Pinto

O Barreiro recebeu a 30 de junho de 1965 as comemorações no âmbito dos 100 anos da Companhia União Fabril (1865-1965), registadas em fotografia por iniciativa da empresa. O conjunto documental apresenta vários níveis de interesse, sendo o nosso enfoque nas três inaugurações realizadas ao longo do dia e que atestam a marca incontornável que a CUF deixou no património histórico-artístico concelhio.

O conjunto de 211 documentos existente no Arquivo CUF/ Alfredo da Silva remete para as comemorações do centenário da CUF, de que o Barreiro foi palco a 30 de junho de 1965. Importa ressalvar que a CUF – Companhia União Fabril foi fundada em Lisboa no ano de 1865. Só após a fusão com a Companhia Aliança Fabril, em 1898, viria Alfredo da Silva dar-lhe o fulgor que resultou num dos maiores casos de sucesso na história empresarial portuguesa, de que o Barreiro viria a ser o mais relevante complexo industrial, a partir de 1908. Ora, a fotorreportagem promovida pela empresa nas Festas Centenárias é constituída pelos negativos em película e respetivos positivos a preto e branco em papel fotográfico, em que ficaram registados os momentos altos deste dia, com ênfase na inauguração do Monumento a Alfredo da Silva no centro da vila, o descerramento do padrão evocativo dos 100 anos da CUF junto ao edifício da Direção das Fábricas e o evento inaugural do Estádio Alfredo da Silva. Trata-se de três obras de arte e arquitetura marcantes no concelho do Barreiro, tanto pela importância da história industrial que simbolizam, como pela qualidade artística que pautou as encomendas da CUF, no sentido de dignificar diferentes zonas do concelho e que ainda hoje desempenham papéis marcantes no património local. Por exemplo, o Monumento foi fruto da parceria do arquiteto João Andresen (a base arquitetónica), com o artista plástico Júlio Resende (a decoração em pedra do lago artificial) e o escultor Salvador Barata Feyo (a estátua do homenageado), trio de artistas portuenses que contribuiu para o debate sobre os cânones artísticos em Portugal, desde a década de 1930. De resto, a maquete encontra-se registada em duas fotografias, tornando-se fundamental para reconstituir o aspeto do conjunto original, uma vez que hoje apenas subsiste a estátua do industrial, junto ao local. Já o Estádio, foi projetado pelo arquiteto barreirense Joaquim Cabeça Padrão, reconhecido urbanista à escala nacional e autor de outros edifícios emblemáticos na sua terra-natal, como a Igreja de Santa Maria (Imóvel de Interesse Público), o Prédio dos Cavalinhos (na Rua Eça de Queiroz) ou o salão de festas da SIRB “Os Penicheiros”. Além das cerimónias do Centenário, propriamente ditas, este acervo arquivístico testemunha a presença de altas individualidades como o presidente da República Américo Tomás (que presidiu às comemorações) e o Presidente da Assembleia Nacional, o genro e sucessor de Alfredo da Silva – D. Manuel de Mello (que viria a falecer no ano seguinte) – e seus descendentes, Jorge e José Manuel de Mello, vários Ministros e Secretários de Estado, o Presidente da Câmara Municipal, entre outros. A este leque de figuras institucionais, juntou-se ainda uma parte expressiva da população Barreirense, quer sob a forma das agremiações locais quer da massa anónima que fez questão de participar no programa festivo, bem como os profissionais da própria CUF. Um dia extraordinário, que muitos barreirenses ainda recordam ter assistido, e que por isso integrou a memória coletiva. Destaque-se ainda entre os retratados celebridades da época, como o futebolista Eusébio, que nessa mesma tarde marcou o golo do empate no jogo inaugural do Estádio Alfredo da Silva, em que o Grupo Desportivo da CUF recebeu o Sport Lisboa e Benfica, envolvido na moldura humana de cerca 20 mil entusiásticos espectadores.

Cerimónia solene de inauguração do Monumento a Alfredo da Silva.

Evento inaugural do estádio Alfredo da Silva.

Descerramento do padrão comemorativo do Centenário da CUF, no complexo fabril.